O vinagre das mídias sociais
Fernanda Figueiredo.
Estas últimas manifestações ocorridas em várias capitais do país, pegaram todos de surpresa, principalmente, os políticos. Espremida entre o dia dos namorados, Santo Antonio e São João, a manifestação comprovou o poder das redes sociais e o povo sentiu nessa convocação uma imensa vontade de sair às ruas para protestar. Na era tecnológica, graças à internet, é possível realizar uma mobilização estrondosa. Essa revolução tecnológica é capaz de transformar o impreciso no imediato e provar que o alcance das mídias sociais é impressionante.
Afinal, do que protestam? De fato, foi uma manifestação diferenciada. Não foi organizada por partidos e sindicatos, nem foi uma manifestação tipicamente da esquerda unida, não foi uma manifestação de um líder. Era o povo com vontade de ser ouvido.
Eu, por exemplo, fiquei surpresa. Em toda minha vida de militante, só fui protestar quando as coisas estavam muitos ruins, quando não dava mais para suportar à questão econômica ou política do país.
Tem questões que precisam ser melhoradas? Sem dúvida, principalmente, na saúde e na educação, e, sobretudo, na esfera política.
Há um desejo latente de se acabar com a corrupção e as mazelas que acontecem no Congresso. Achei bonita a presença do povo na marquise do Congresso. Foi algo inédito. Há alguns anos, visitei a marquise do CN, mas logo os seguranças pediram, gentilmente, para eu me retirar. A juventude emoldurando a obra de Niemeyer foi algo impactante.
No Rio de Janeiro, foi bacana o protesto da Av. Rio Branco, onde já cruzei diversas vezes essa avenida para protestar. A última vez, que participei de uma manifestação na Avenida Rio Branco, foi ano passado, durante a Rio+20. É sempre emocionante.
Desta vez, o estopim para os jovens ocuparem as ruas foi o aumento da passagem. Há tempos os estudantes reivindicam o passe livre, o Movimento Passe Livre foi identificado como um dos organizadores do evento. Porém, a adesão à manifestação foi bem ampla, assim como a pauta de reivindicações. Foi identificada outra vertente do protesto: A Copa. No banco dos réus, os gastos exorbitantes da Copa das Confederações e os ingressos super caros, não acessíveis ao povo brasileiro, que ficou de fora. No país do futebol e o povo não foi convidado para a festa. Isso é sintomático. Assim, como o fato do País não ter recebido as melhorias prometidas, apesar de o evento ser tão aguardado pelo povo brasileiro. Na abertura em Brasília, a presidente Dilma foi vaiada por uma elite que tinha condições de pagar pelo ingresso, a mesma elite que não suporta a ascensão da classe c e as mudanças sociais. Por entender que políticas sociais são necessárias é que achei a vaia desnecessária, deselegante.
O recado que se captou das ruas foi uma insatisfação geral, uma catarse coletiva, contra os partidos e governantes das diversas siglas. Além, do medo da volta à inflação, a letargia do Congresso, a votação da PEC 37. Há uma catalepsia política no Legislativo.
Denominada a Marcha do Vinagre, acho que não veio para azedar a relação com à classe política, mas, sobretudo, veio para uma reflexão, para permitir o diálogo, estabelecer um canal de comunicação do povo com os governantes.
Que País é esse? É um país de um povo pacato, feliz, sonhador, e que se pergunta: Afinal, quero mudar a realidade do país ou falar da nossa própria utopia?