Clarice Lispector (1920-1977), que também falou de
Brasilia com sua prosa insólita e inquietante. Depois da primeira
visita à cidade, em 1964, ela escreveu “Nos primeiros começos de
Brasilia”, em que diz: “Brasília é construída na linha do horizonte.
Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo
quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um
homem especialmente para aquele mundo. Nós fomos todos deformados pela
adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se
tivéssemos sido criados primeiro, e o mundo depois, deformado às
nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília.
Hoje, o homem (e a mulher) de Brasília talvez já existem. Clarice
voltou em 1974, em plena ditadura. Sentiu-se “como se um gigantesco
olho verde me olhasse implacável”. Depois de confessar espantos e
encantos ela conclui: “Vou agora escrever uma coisa da maior
importância: Brasília é o fracasso do mais espetacular sucesso do
mundo. Brasília é uma estrela espatifada. Estou abismada. É linda e é
nua. É um futuro que aconteceu no passado. Eterna como uma pedra. A
luz de Brasília me cega. For a isso, Viva Brasília”. Viva.
Publicado por Tereza Cruvinel. CB.
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