Rio 24 graus Jan/2012.
Fernanda Figueiredo
De volta ao Rio após longo tempo, deparo-me com minhas flores preferidas, as petúnias, bem rosinhas, penduradas na banca de jornal.Outra, que admiro é a papoula que normalmente brota nos meses de verão intenso.
Rio de Janeiro. Desta vez, o cenário é o mau tempo, carregado e nubladão para desespero do carioca. Certa vez, Gérard Depardieu veio ao Rio para o lançamento de um filme e fui convidada para avant-première, junto com uma plateia que lotou o cinema na Cinelândia. Ocorreu uma baita decepção do carioca, na chegada do Depardieu em razão do tempo fechado. A equipe que foi recepcioná-lo e a imprensa, todos desejavam apresentar ao ator e diretor francês o verão a carioca. Depardieu saiu-se com esta: “É a falsa democracia do sol...”.
Concordo. Abaixo do sol cria-se uma falsa ilusão de que todos são iguais, tudo é uma maravilha, não existe pobreza e nenhum pecado abaixo do Equador. Na verdade, o carioca é movido pela energia solar, seu astral, seu humor, tudo muda quando, douradamente, brilha majestoso – o Sol - nas areias escaldantes da cidade maravilhosa...
Apesar do tempo atípico para uma temporada de verão, revejo à paisagem carioca, os contornos das montanhas, os relevos, a exuberante Mata Atlântica, especialmente, um pão todo “feito de açúcar”, que nos brinda da janela, e toda magnífica enseada de Botafogo, formando um dos mais belos cartões postais do mundo. Os barcos, dos mais simples aos mais modernos, harmonizam o ambiente com um colorido vibrante.
![]() |
Foto Fernanda Figueiredo |
Apesar do mau tempo, resolvo sair para lugares dantes sempre frequentados. Botafogo, onde passei parte da minha vida, e faço uma comparação depois que li “1808”, livro que trata da vinda da família real e conta um pouco de como era a vida carioca daquele tempo e sua paisagem então intocada. Hoje, uma velha cidade, um tanto poluída e mal cuidada, porém, na questão da limpeza urbana melhorou. Continuam os encantos de outrora. Cosmopolita, o Rio é uma cidade para sair à rua e se divertir com os mais variados tipos.
Todavia, cruzar a Rio Branco e relembrar as inúmeras manifestações políticas de quem lutou com os cariocas pela Democracia é o que mais emociona.
Pergunto pelos mendigos. Não os vejo como antes, um tanto deles sumiram das ruas. Segundo comentários, é a política da Prefeitura. No meu tempo, (ai credo, detesto essa frase), era uma plataforma política da Sandra Cavalcanti, apenas uma proposta indefensável.
Fala-se muito em UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), em ação desde 2008. Na realidade, existe um Rio menos violento. É fato. Esses anos em que fiquei em Brasília, foram de muito sofrimento com exacerbada violência no Rio, fiquei chocada com o assalto do Jardim Botânico que virou até filme (2000), ou com o assassinato do jornalista do globo Tim Lopes (2002), ainda, o crime cometido contra os franceses (2007), outro crime bárbaro da senhora em Botafogo (2006), ora os crimes de Santa Tereza... e o tão bárbaro que foi a da funcionária da Alerj (2001); ora do menino João que foi arrastado (2007) e por aí vai... Tanta violência não despertava em mim o desejo de retornar. Tornar-se-ia extremamente necessário um basta. Um desejo de todos.
O Rio continua violento, porém, existe uma sensação boa, mais suave, com a nítida impressão que se pode circular com menos tensão. Como toda megalope padece de excesso de gente e falta de qualidade de alguns serviços básicos. Sinto falta do bondinho, por isso, não irei a Santa Tereza, onde morei. Nem pegarei a barca para relembrar meus tempos de estudante. Pasmem!
O carioca envelheceu e isso é perceptível. O carioca empobreceu e isso é uma realidade... Mas o carioca nunca deixou de amar... É muita serotonina no ar. Tampouco, quase não existe carioca da gema. A gema agora é temperada de sotaques do mundo inteiro. O carioca é quem entende esse espírito, não adianta vir morar aqui e ser ser de mal com a vida, ou ser conservador ao extremo... Ser carioca é um estado de liberdade permanente com a vida, falou?
E, também, adorei comprar um tapete “Gentileza gera gentileza...”. Cruzei nas ruas com essa figura, o profeta, que depois ficou conhecido nas músicas da Marisa Monte, entre outros.
E, para finalizar muita Bossa Nova: “Rio é mar, é terno se fazer amar...”.