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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Brasília- texto de 1977

Foto Fernanda Figueiredo

               Brasília*


                                                                                        *Este texto escrevi em 1977.








Quando que cheguei em Brasília senti que estava perto de descobrir seus encantos. Fiquei impressionada com a limpeza das imensas avenidas. O ônibus circulava bem devagar para melhor apreciarmos à paisagem. Chegando na rodoviária o movimento de pessoas era intenso, senti muito calor humano.

Cheguei a pensar que Brasília seria um pouco daquela agitação, mas senti um enorme impacto, quando notei que estava enganada. Da janela do baixo edifício, observei que nas ruas o movimento de gente não existia.

Uma cidade onde paira solidão no ar. Brasília faz parte da vida moderna, onde as pessoas estão muito distantes, onde a monotonia é sua eterna companheira.

A bela vista panorâmica da cidade situa uma arquitetura cartão postal. O avião foi bem planejado, já não é uma utopia. Fica só bem difícil, para quem deseja ver algum passageiro. As pessoas parecem que vivem escondidas, ou são encontradas nos poucos pontos de diversão, ou nos muitos locais de trabalho.

Talvez, este meu texto, seja um paradoxo, pois conheci Brasília após a morte do JK, num período de luto, que pode ter contribuído para que cada habitante estivesse abalado com sua repentina morte. A morte de JK causou um choque realmente, mas Brasília deverá ter “alma” de um peixe vivo. Viva, Brasília!

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Pobre, Nandinha!





Nos anos 70, quando adolescente, meu pai me deu uma carneirinha. O feminino de carneiro é ovelha, e quando pequeno é chamado de cordeiro ou borrego. Quanto à expressão carneira, embora usual, talvez, não seja correta. Detalhes...  Logo, fiquei encantada. Rita, uma irmã de coração, colocou o nome de Nandinha. Assim ela foi batizada.

Começou o chamego; Nandinha  pra cá; Nandinha pra lá...

A criançada não sabia a diferença entre cabra e ovelha. Vamos esclarecer: Cordeiro, carneiro e ovelha são da mesma espécie ovina, cordeiros são os filhotes, carneiros, os machos e ovelhas as fêmeas. E as cabras são de outra espécie a caprina, são as fêmeas e os machos são os bodes. Para simplificar: Cordeiro (filhote da ovelha) carneiro (macho da ovelha) Ovelha (fêmea do carneiro) e cabra (fêmea do bode).

Para enfatizar: A fêmea do carneiro é a ovelha. A cria de ambos é o cordeiro.  Assim, nasceu Nandinha. Baby.

Nandinha ganhou um charmoso laço azul bebê, gracioso e elegante.  E foi crescendo, crescendo, me absorvendo... Belo dia... Estava eu naquela vida de adolescente, sem dinheiro; dura. 
Chamei meu pai, que era duro na queda e ofereci a Nandinha por alguns trocados. No fundo, sabia que ele não aceitaria tal oferta. Dito e feito. Falou pra mim:

- “Pega estes caraminguás e continua com a Nandinha”. Não lembro quanto foi, mas o suficiente para suprir as necessidades da hora.

Passou algum tempo e Nandinha crescia e comia bastante. Resolvi vendê-la novamente.  Afinal, era o único bem que dispunha. Pensei: Vender para quem? Sem escapatória ofereci novamente para o meu pai, como se ele tivesse esquecido este pequeno negócio familiar. Ah! Nem vai lembrar... Pensei!
Conversei com o meu pai. “Acho que terei que vender Nandinha”. Ela está dando muito trabalho, as pessoas estão reclamando do comportamento dela, bagunceira. Enfim, preciso de dinheiro, conversê de sempre. Ele coçou a cabeça, meteu a mão no bolso e falou: “Só tenho estes trocados”. Na verdade, no outro bolso tinha um dindin mais robusto. Então, eu fingi não saber. Enfim, aceitei de bom grado e deu para quebrar o galho da hora. 

Passado mais algum tempo, não tinha solução, resolvi oferecer, novamente Nandinha. Ela estava uma bela espécie ovina! E, foi a última vez... O meu velho pai (velho não... Usado, como gostava de falar) se aborreceu e não quis comprar Nandinha. 

Por fim, Nandinha virou churrasco. Todos ficaram tristes, especialmente, eu. Não tive coragem de experimentar o churrasco. Era uma festança que tinha um motivo especial. Na  recepção, uma visita ilustre. No cardápio entraram, porcos, galinhas, patos, boi e a pobre  Nandinha.

Ela sim, tão ilustre... 

Fiquei muito triste, ainda mais, me falaram que os carneiros ficam muito tristes antes da morte. Mas, logo superei sua prematura perda. Verdade é que não faz parte do meu cardápio: coelhos que dirá os carneiros. Bom começo para conscientização em defesa dos animais e evitar comer carne.
Só não perdi essa mania de vender minhas coisas, bens. Mora dentro de mim uma cigana de outra encarnação, que não me abandona, gosta de comércio, troca. Nem gosto tanto de dinheiro, mas como disse Nietzsche: “Diante da necessidade, todo idealismo é ilusão”.

“Carneirinho, carneirão-neirão-neirão,
Olhai pro céu, olhai pro chão, pro chão.”

Uma grande lição de vida, que um dia acabaria em comovente relato. Procuro boas histórias. Coisas do acaso. Do cotidiano. (Fernanda Figueiredo.)




sábado, 4 de abril de 2015

Exposição no CCBB "Ciclo – Criar com o que temos"

Até o dia 20 de abril, o Centro Cultural Banco do Brasil (Ccbb) recebe a mostra "Ciclo – Criar com o que temos", arte feita com materiais do cotidiano. Comemorando 100 anos dos primeiros ready-made de Marcel Duchamp, artista que inovou ao promover o deslocamento de objetos comuns para o cenário de exposições de arte.

A mostra reúne 15 artistas de diversas nacionalidades, utilizando materiais do nosso cotidiano como: palitos de dentes, e absorventes íntimos que emolduram um lustre, no qual o impacto é bem impressionante. 

Foto Fernanda Figueiredo

A portuguesa Joana Vasconcelos é um dos nomes mais conhecidos do público brasileiro, tendo realizado diversas exposições no País.  Em “Ciclo”, é mostrada  uma de suas obras mais notáveis: “A Noiva”, um gigantesco e suntuoso lustre, de 5 metros de altura, feito com mais de 25 mil de absorventes íntimos (OB’s), comentário irônico sobre o papel social e íntimo da mulher na nossa sociedade. A obra, de 2001, já participou de mais de dez exposições.

Foto  Fernanda Figueiredo

Julia Castagno (1977) – “Modelo para a sobrevivência” é uma surpreendente e complexa estrutura geométrica composta por milhares de poliedros, criada pela artista uruguaia ao longo de dois anos de trabalho para colar cerca de 10 mil palitos de dente num processo lento de repetição de padrões e exploração de elementos geométricos no espaço. A artista reapropria-se esteticamente do objeto de menor valor comercial no mundo atual, para criar uma obra plasticamente sublime.




Tara Donovan (1969) – A artista americana é autora de grandes instalações e esculturas feitas a partir da manipulação de grandes quantidades de material industrializado, como canudos, copos e até mesmo escovas de dente. O publico brasileiro terá a oportunidade de descobrir “Sem título (Copos de plástico)”, trabalho de grande sucesso da artista, apresentado pela primeira vez em 2006, no qual a artista recria uma topografia sedutora, uma paisagem imaginada, na qual explora texturas, efeitos de luz e sutilezas cromáticas utilizando apenas milhares de copos de plástico transparentes.

Interessante, também, a GumHead, uma enorme escultura da cabeça do Canadense Douglas Coupland, onde o público é convidado a colar gomas de mascar em sua “cabeça”.