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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Baú sentimental


                                                                                                                                        

Hoje, tive que descartar cartinhas antigas, retiradas do baú, dos meus amigos de décadas passadas. O descarte se tornou necessário devido ao tempo. Ai, o tempo... Corrói o papel, mas não às lembranças. Por mim, ficariam eternamente  na gaveta. Todavia, foi ótimo lê-las, saborear velhos tempos, relembrar velhas histórias de amigos que cruzaram meu caminho, sumidos, alguns, além da conta. 

Cartas? Sim. Escrevo estas poucas linhas... Haja vista, tratar-se de uma época que nem imaginávamos existência de um computador. 

Gosto muito de trabalhar com memória, algo que remexe o sistema límbico, parte afetiva. Entretanto, jamais reviveria passado. Reviver coisas que já vivi, nem pensar. Não sou saudosista, tenho uma teoria que o passado foi bom exatamente por ter ficado para trás, sem volta, passado é para a memória trabalhar. À medida que se recorda, lê, trabalha-se o autoconhecimento.

Embora, a palavra que senti mais presente nas cartinhas foi: Saudade... Nunca imaginei que eu deixasse tantas saudades... Foi bom para o ego. Minha vida foi meio cigana, de mudanças de cidade, fui deixando, amigos, amores, sentimentos, e, principalmente, saudades... E, em particular, busquei referencial para revitalizar essa busca à felicidade, às experiências novas. No passado e, no presente, o importante é ter amigos, ser feliz!

Encontrei ‘pilhas’ de cartas da minha prima que morava nos EUA e sempre teve talento para a escrita. Cartinhas sempre lindas. Encontrei algumas do Rogério que morou na França e estava com contato com os verdes franceses, puramente ideológicas. Depois encontrei cartões dos companheiros de militância Silvio Costa, João Carlos Volotão, João Morais, Gina do PV alemão, Flavia e Rose, verdes de Sampa, me fizeram cartas quilométricas muito bacanas que falavam de vida, ideologia. Da Léa, amiga sumida, um postal de B. Aires. Meninas legais. Cartas do Zé de São Bernardo, cartão da Lucélia, Liszt. Aventureiros como Eduardo que conheci na transamazônica. (E, também, encontrei alguns rascunhos de quem falava desenhando, mas nem as paredes, confesso!), um não sei quê de mistérios inconfessáveis. Bom, nem todas as cartas são para a eternidade, alguma se rasga com vontade. Carta equivocada.

Reconfortante encontrar cartinhas dos amigos da Faculdade Hélio Alonso, no Rio, onde estagiei, tinha uma turma muito boa de anarquistas, poetas. Achei uma cartinha do Gilberto Pessoa com uma poesia e, também do anarquista Nelson Tangerini, dois “figuraças.” Tinha um postal do cineasta Rogério Silveira.

Não, tenho, portanto, vontade de fazer resgate do passado. Com naquela propaganda, fui ligando, ligando até encontrar o primeiro namorado. Isto pode não ser um bom negócio... Literalmente...risos!

Pude gargalhar com cartinhas das minhas amigas de faculdade, da Débora, Malena e da  Gilda com seu jeito carioca de ser... Malena que sempre prometia: “Vamos nos encontrar” e a Débora que me fazia cartinhas saborosas com todas as notícias do nosso Rio de Janeiro. Da Ana Cunha, encontrei ótimas tiradas.

As cartinhas das amigas dos anos 70, tempo de colégio, Lélia e Silvia guardavam um sabor de descoberta do mundo, das caronas, dos namorados. E, tantas outras cartas que se perderam  na estrada da vida. Em todas existia muita alquimia. Um naipe de possibilidades, vontade de se aventurar na vida.

Com intuito de preservar sua memória, guardo, ainda, todos os postais da minha saudosa irmã que mandava um postal de cada país que visitara na década de 80 e 90. Eu diria que ela viajou quase todos os continentes, faltaram alguns países da Ásia, Caribe. 

E, por fim, as cartinhas amareladas, pulverizadas pelo tempo, só me restou descartá-las e  fazer upoload  para eternizar parcas lembranças, saborosas histórias, doce vida!

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