Sociedade de um cinegrafista morto
Fernanda Figueiredo.
Não sou socióloga, tampouco cientista social. Entretanto, há tempos observo que algo não vai bem na sociedade brasileira. Identifico uma intolerância por parte das pessoas. Os jovens são os mais descompromissados com posturas éticas, indo por caminhos obtusos. Nem tanto por posições reacionárias, mas principalmente, por ações intolerantes.
Os fatos recentes reforçam a tese. O vandalismo dos Black block que tiraram a vida do cinegrafista da Rede Bandeirantes, em manifestação ocorrida no Rio de Janeiro, reflete uma imagem soturna. Não se conhece os subterrâneos dessa turma, que pratica atos de vandalismo e matam.
Além disso, há outro fato execrável que é a atuação dos jovens justiceiros na zona sul do Rio de Janeiro, que amarraram com uma trava de bicicleta um menor infrator, em ponto turístico da cidade. Dadas às circunstancias, da falta de humanidade, percebe-se que a sociedade transitará para um caminho perigoso se não dermos um basta! “Violência gera violência” já dizia sabiamente o profeta Gentileza.
Esses fatos ocorridos sinalizam uma inversão total de valores. Uma apresentadora de TV que instiga a violência carece de debate, preocupação. Observa-se a quantidade de ódio, rancor que é jogado nas redes sociais, isso tudo impressiona. As pessoas retrucam: “esfola, mata, fuzila”, com muita naturalidade. Algo inexplicável, assombroso!
Identifica-se uma geração que cresceu sem ideologia, sem referenciais; que têm outros valores bem diferentes. Nota-se em muitos jovens a falta de civilidade, de princípios básicos, de educação mesmo: não respeitam os mais velhos, são intolerantes no trânsito, são preconceituosos.
É uma geração que vê a vida diante de uma tela. Esses jovens dão-nos uma ideia que nasceram teclando e sentimentos como amor, amizade, fraternidade, respeito, doação, não são assimilados, ficam robotizados, congelados.
Por outro lado, existe impunidade no ar. Um cansaço generalizado de esperar que as autoridades resolvam. Como diz a musica do Chico Buarque: “O que não faz sentido...” Mesmo que exista essa aclamação para acabar com a violência urbana, para acabar com corrupção política, não faz sentido utilizar a violência para intimidar, não faz sentido jogar bombas em inocentes, não faz sentido ir às ruas com o intuito de gerar maior quebra-quebra.
Há nessa mesma geração, pessoas de bem, que desejam construir um país mais humano. E são estes que podem e devem mudar o jogo, construindo uma sociedade mais justa e fraterna, bem diferente da sociedade de um cinegrafista morto.
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