Chico Mendes vive...
Fernanda Figueiredo (*)
Reconto uma história significativa, em razão da triste constatação que parte desta nova geração nunca ouviu falar do Chico Mendes. Passado trinta anos do seu assassinato, deparamo-nos com um quadro dramático para sobrevivência da Amazônia e os povos da floresta. Então, vale relembrar à luta do companheiro Chico Mendes.
A Organização não governamental britânica Global Witness, em seu terceiro relatório anual, relata que nenhum país mata mais ambientalistas que o Brasil.
No dia 22 de dezembro de 1988, tiros ouvidos na boca da noite, ecoaram no mundo. Chico Mendes fora assassinado. Na época, morava no Rio de Janeiro e acordei com a notícia que transformaria a retórica ambiental. A grande repercussão do seu assassinato proporcionou uma nova dimensão às questões ambientais no Brasil. A discussão sobre meio ambiente saiu dos guetos para as primeiras páginas do New York Times com grande rebuliço nos mais diversos segmentos e poderes decisórios.
Havia sonhado na véspera dessa tragédia com um funeral e nele estava contido uma mensagem de renascimento, um bebê morreria, mas vários outros nasceriam. Quase premonição. Vislumbrei que outros Chicos Mendes surgiriam, homens e mulheres lutariam por essa causa. uma mulher deu sua vida na luta pela defesa da Amazônia, a americana Dorothy Stang. Outro assassinato anunciado.
Dorothy, como o Chico, foram marcados para morrer por uma causa, a luta da preservação da região amazônica. Convivi com Chico Mendes, meses antes do seu assassinato, quando se refugiou no Rio de Janeiro, após constantes ameaças que vinha sofrendo no Acre. Era um homem pacato, de fala mansa, que se dispunha a preservar a floresta, defendia os seringais e ousou falar ao mundo a palavra Empate, uma maneira dos povos da floresta impedirem as derrubadas.
Nessa andança pelo Rio de Janeiro, ele ainda era pouquíssimo conhecido. Algumas lideranças e ambientalistas viram naquele homem simples, que acabara de ganhar um prêmio internacional, um porta voz da floresta e da sua gente.
É importante relembrar os fatos. Meu sobrinho, o Lucas, ainda garoto, ao entregar umas flores, foi carregado no colo pelo Chico Mendes. Talvez, para ele, foi fundamental reconhecer esse ato simbólico, que faz parte da sua infância. Esse simbolismo torna-se importante para meditarmos sobre outras mortes que se sucederam em nome desta causa e que tem na conservação do planeta, por esta geração e futuras, seu objetivo maior se o ser humano assim o permitir.
E, passados trinta anos, ainda recordo o Chico Mendes contando causos da Amazônia, quando viajamos para Petrópolis para um encontro com os “verdes”. Deixava transparecer aquele sentimento de homem puro, de um contador de estórias, talvez já imaginando que seu destino estava selado nos grotões do interior do Acre.
No assombramento daqueles que lutam pelo meio ambiente, o Brasil sofreria mais uma abalo. A morte do Francelmo me faz remeter a poesia do Augusto dos Anjos “No desespero dos iconoclastas, quebrei a imagem dos meus próprios sonhos…”
Com mais essa tragédia, quebrei a imagem romântica, dos tempos que erguíamos faixas em plena Avenida Rio Branco, no Rio, quando pouco se falava em ecologia e distribuíamos flores para falar de gás natural, camada de ozônio, ciclovias.
Hoje, o interesse econômico continua falando mais alto, criam-se barreiras, fomentam-se políticas e tentam nos acuar. Nesse contexto, não suportando a pressão, Francelmo chegou ao extremo de colocar fogo nas vestes para salvar o pantaneiro, a rica fauna da região e as suas águas.
Em 1983 publiquei o artigo sobre “Ecologia” no Jornal do Brasil e, de lá para cá, muito se evoluiu na disseminação da causa, inclusive em políticas públicas, mas pouco se avançou na mudança de mentalidade dos que ditam as regras do poder econômico. Acham que o dinheiro compra um planeta, vida, lembranças. Onde?
* É ambientalista.
Fernanda Figueiredo (*)
Reconto uma história significativa, em razão da triste constatação que parte desta nova geração nunca ouviu falar do Chico Mendes. Passado trinta anos do seu assassinato, deparamo-nos com um quadro dramático para sobrevivência da Amazônia e os povos da floresta. Então, vale relembrar à luta do companheiro Chico Mendes.
A Organização não governamental britânica Global Witness, em seu terceiro relatório anual, relata que nenhum país mata mais ambientalistas que o Brasil.
No dia 22 de dezembro de 1988, tiros ouvidos na boca da noite, ecoaram no mundo. Chico Mendes fora assassinado. Na época, morava no Rio de Janeiro e acordei com a notícia que transformaria a retórica ambiental. A grande repercussão do seu assassinato proporcionou uma nova dimensão às questões ambientais no Brasil. A discussão sobre meio ambiente saiu dos guetos para as primeiras páginas do New York Times com grande rebuliço nos mais diversos segmentos e poderes decisórios.
Havia sonhado na véspera dessa tragédia com um funeral e nele estava contido uma mensagem de renascimento, um bebê morreria, mas vários outros nasceriam. Quase premonição. Vislumbrei que outros Chicos Mendes surgiriam, homens e mulheres lutariam por essa causa. uma mulher deu sua vida na luta pela defesa da Amazônia, a americana Dorothy Stang. Outro assassinato anunciado.
Dorothy, como o Chico, foram marcados para morrer por uma causa, a luta da preservação da região amazônica. Convivi com Chico Mendes, meses antes do seu assassinato, quando se refugiou no Rio de Janeiro, após constantes ameaças que vinha sofrendo no Acre. Era um homem pacato, de fala mansa, que se dispunha a preservar a floresta, defendia os seringais e ousou falar ao mundo a palavra Empate, uma maneira dos povos da floresta impedirem as derrubadas.
Nessa andança pelo Rio de Janeiro, ele ainda era pouquíssimo conhecido. Algumas lideranças e ambientalistas viram naquele homem simples, que acabara de ganhar um prêmio internacional, um porta voz da floresta e da sua gente.
É importante relembrar os fatos. Meu sobrinho, o Lucas, ainda garoto, ao entregar umas flores, foi carregado no colo pelo Chico Mendes. Talvez, para ele, foi fundamental reconhecer esse ato simbólico, que faz parte da sua infância. Esse simbolismo torna-se importante para meditarmos sobre outras mortes que se sucederam em nome desta causa e que tem na conservação do planeta, por esta geração e futuras, seu objetivo maior se o ser humano assim o permitir.
E, passados trinta anos, ainda recordo o Chico Mendes contando causos da Amazônia, quando viajamos para Petrópolis para um encontro com os “verdes”. Deixava transparecer aquele sentimento de homem puro, de um contador de estórias, talvez já imaginando que seu destino estava selado nos grotões do interior do Acre.
No assombramento daqueles que lutam pelo meio ambiente, o Brasil sofreria mais uma abalo. A morte do Francelmo me faz remeter a poesia do Augusto dos Anjos “No desespero dos iconoclastas, quebrei a imagem dos meus próprios sonhos…”
Com mais essa tragédia, quebrei a imagem romântica, dos tempos que erguíamos faixas em plena Avenida Rio Branco, no Rio, quando pouco se falava em ecologia e distribuíamos flores para falar de gás natural, camada de ozônio, ciclovias.
Hoje, o interesse econômico continua falando mais alto, criam-se barreiras, fomentam-se políticas e tentam nos acuar. Nesse contexto, não suportando a pressão, Francelmo chegou ao extremo de colocar fogo nas vestes para salvar o pantaneiro, a rica fauna da região e as suas águas.
Em 1983 publiquei o artigo sobre “Ecologia” no Jornal do Brasil e, de lá para cá, muito se evoluiu na disseminação da causa, inclusive em políticas públicas, mas pouco se avançou na mudança de mentalidade dos que ditam as regras do poder econômico. Acham que o dinheiro compra um planeta, vida, lembranças. Onde?
* É ambientalista.