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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Cartas...



Estas poucas Linhas...
Fernanda Figueiredo
Com  o avanço das tecnologias, do computador, quase não se escreve mais cartas. De fato, a maior parte da nossa comunicação é realizada por e-mails.
Arrumando  meu baú de lembranças, achei muitas cartas trocadas com amigos, família e namorados. Como era gostosa a sensação de esperar o carteiro, o que me faz lembrar esta canção: “Quando o carteiro chegou e meu nome gritou com uma carta na mão...”
Essa  sensação de se chegar em casa e encontrar em cima da mesa, cartinhas em envelopes especiais, endereçadas com zelo e carinho, em envelopes coloridos, reciclados, escritas em papel de seda, desenhadas com florzinhas, com adornos é algo do passado.

Os conteúdos transpunham sentimentos, delicadeza, as notícias que vinham de longe, dos parentes, amigos e amores. Ou apenas, para entreter, outras densas, com informações factuais, ou cartas que mais ressoavam  dilemas do divã.
Alguns companheiros de aventuras, não sabiam o meu sobrenome e endereçavam: "Fernanda Verde Manga"," Fernanda Companheira", "Fernanda Verde Mata..."
Outras vinham com várias páginas (uma, duas, três, quatro, cinco...) especialmente, as que versavam sobre conjuntura política e ambientalismo, trocadas com amigo que morou um tempo em Paris. As cartinhas vinham recheadas. Já a
à  minha prima, que morava na Flórida, também, me enviava folhas e mais folhas. Tânia nasceu  com  o dom da escrita, adorava receber suas deliciosas cartinhas. Já minha irmã que morou na Romênia, me mandava postais. Não tem como jogá-los fora. Postal é atemporal. Os monumentos continuam iguais  e as mensagens estão eternizadas.
Receber  carta de namorado deixava a gente toda prosa: Ah! Que bom que lembrou de mim...Ou ele estava com a consciência pesada, arrumou outra e despachou um postal...Vai saber...
Também gostava de receber carta da minha amiga Silvia, do tempo do Colégio Zoé Cerveira, na minha adolescência. À medida que releio vislumbro maturidade, busca existencial impressionante desta minha amiga. E das amigas da Universidade: Débora, Gilda e Malena, adoravam escrever algumas poucas linhas. 

Recebi cartas de uma colega, do Colégio Batista, na qual ela comentava: Lembra do dedão? Risos... Daí lembrei... Pegávamos carona na volta para casa,  algo transgressor naquela época, imagina, anos 70, adolescentes apontando o dedão... Graças a Deus não tinha essa violência de hoje. Um mundo ingênuo, de paz de amor.
Ao  reler algumas, vi como o tempo mudou, certas cartas dão-nos uma ideia da evolução dos tempos, da tecnologia. E até as gírias mudaram quem nunca escreveu um “Curtir as pampas”? Quem é desse tempo irá lembrar...
As cartas são extensas, que marcaram amizades sinceras, algumas perdidas na estrada, outras banidas pelo tempo, algumas que já duram trinta anos... Sempre supus importantes, como se fossem as cartas apaixonadas  dos poetas, as cartas históricas. Como gosto de trabalhar com memória,  são importantes instrumentos de trabalho, pesquisa.
Escrever é uma arte, mas detestava minha letra. Hoje, já gosto mais... Infelizmente, tem carta que seria melhor não ter escrito. Foi um caldeirão de ebulições, de cargas sentimentais, que saem do âmago, extravasa à própria razão. 
O e-mail é  impessoal, com o mundo cada vez mais vigiado, não há segurança nenhuma, não há como expor tanta intimidade. Então, me bateu essa saudade das cartas, onde os sonhos relatados tinham um sabor diferente, de construir cada palavra com emoção, encantamento, sutilezas, segredos, medos, ressentimentos, incertezas...

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