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segunda-feira, 20 de março de 2023

Artigo

 RESPEITO AOS POVOS ORIGINÁRIOS.

         Fernanda Figueiredo 


Entre os anos de 1987 e 1989, nós ambientalistas, denunciamos os recorrentes conflitos na terra indígena dos Yanomami. Quase sempre envolvendo o garimpo. Por essa razão, fizemos manifestações em defesa dessa etnia. A terra indígena era cercada por garimpeiros (como hoje), que extraíam ouro e os desastres ambientais ocorriam dessa atividade ilegal, como a poluição dos rios, contaminação por mercúrio, entre outras mazelas. Depois os garimpeiros foram expulsos, mas sempre retornavam.

Naquela época, década de 80, a região era marcada pela corrida ao ouro, por ser região de difícil acesso, e as denúncias nos chegavam por meio de jornalistas estrangeiros. Lembro de uma equipe holandesa, que nos procurou com um documentário sobre à dramática situação dos indígenas no estado de Roraima. 

Porém, jamais vimos imagens tão impactantes como as que estão atualmente estampadas na imprensa nacional e internacional. É triste demais ver os indiozinhos esquálidos, passando fome, com doenças graves, abandonados à própria sorte, sofrendo quase um extermínio. 

Em pleno governo militar atuávamos no Comitê de Defesa da Amazônia, e tínhamos parceria com o CIMI - Conselho Indigenista Missionário, que teve papel importante nesse período para contrapor o desbravamento da Amazônia, e os projetos desenvolvimentistas do governo militar. E com a abertura política surgiram lideranças indígenas, como o Cacique Mário Juruna, parlamentar que gravava as promessas do homem branco.

Assim, outras lideranças foram surgindo, como o Cacique Raoni, que ficou conhecido internacionalmente. Em 1989, no Primeiro Encontro dos povos indígenas, em Altamira no Pará, onde tive oportunidade de conhecer Raoni, que estava acompanhado do cantor Sting. Posteriormente, nos aproximamos do Chico Mendes, que defendia os povos da floresta. E fico pensando como ficaria triste o Darcy Ribeiro com essa tragédia Yanomami. Foi grande conhecedor da causa indígena, autor do livro "Os índios e a civilização." Darcy Ribeiro, um visionário! É dele a frase apropriada para o momento: " Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E não vou me resignar nunca."

Também, vale citar os irmãos Villas-Boas, antropólogos que atuaram, no Xingu, foram profundos conhecedores dos indígenas. Hoje, novas lideranças estão na luta, como Sônia Guajajara, ministra do governo Lula. Quero ressaltar, que David Kopenawa, líder xamã yanomami, em 1988, ganhou prêmio da ONU global 500, mesmo prêmio recebido por Chico Mendes, e foi quem levou ao mundo as primeiras denúncias. 

Em 1992, a terra indígena yanomami foi demarcada no governo Collor, um pouco por pressão dos ambientalistas e pela realização naquele ano, da Rio 92, Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Com essa tragédia Yanomami, nos vem todas essas memórias. Como diz provérbio indígena "Só quando a última árvore for derrubada, pescado o último peixe, poluído o último rio, é que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro." 

Não poderia deixar de citar a jornalista Sônia Bridi, que esteve na aldeia yanomami e fez impressionante relato.

E para encerrar, quem nunca leu a carta do Chefe Seattle, do Suquamish enviou para o presidente dos EUA da época, escrita em 1854, considerado um dos mais belos manifestos já produzidos,  onde diz " O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Há uma ligação em tudo". Os índios são, portanto, os defensores da nossa terra, e do nosso planeta.

(01.2.2023)